As instituições de encerramento prototípicas da sociedade disciplinar,
tais como a fábrica, a escola ou o cárcere, nas que o indivíduo ficava ao
dispor do poder para a sua correção, foram incapazes de cumprirem o
seu objetivo principal, perante a implosão dum modelo social em que
um número crescente de vidas acabou por ficar de fora da institucionalidade.
A deslocalização da produção, a terceirização da economia
ou a deterioração das agências welfaristas tornaram, então, obsoleta a
espessa rede de mecanismos de controlo próprios do disciplinamento.
Ora, também não nos encontraríamos na atualidade perante um capitalismo
desorganizado ou irracional incapaz de reconduzir a situação
sem recorrer à repressão, senão, antes bem, perante uma racionalidade
de governo que extravasa os tradicionais marcos da punição estatal.
Por outras palavras, não voltamos a um Estado essencialmente punitivo,
mas a um modo de governo que, acima de tudo, aquilo que busca
é administrar eficaz e eficientemente o seu corpo social.